Segunda noite
"-Há aqui em São Petersburgo certos recantos verdadeiramente estranhos, que a Nástienhka talvez não conheça. Pode-se dizer que nunca neles bate o sol que brilha para todos os petersburgueses, mas sim um sol diferente, que foi criado só para eles, e que, pode-se dizer, brilha também de uma maneira diferente, com um fulgor que não existe em parte alguma deste mundo. Nestes cantos de que falo, Nástienhka, parece que se agita outra vida, uma vida que não se assemelha de maneira alguma àquela que nos rodeia, como só pode existir em um reino distante de muitos milhares de léguas, porém jamais aqui entre nós e nestes tempos tão graves, gravíssimos. Mas, precisamente, esta vida é apenas a mistura de algo de puramente fantástico, de um ideal fervoroso, e ao mesmo tempo, apesar disso - infelizmente, querida Nástinhka-, de uma obscura rotina e de habitual monotonia, para não chamar vulgar, vulgar até o desespero."
Noites brancas, Dostoiévski.
Nenhum comentário:
Postar um comentário